A Fazenda Passagem promove e apoia a pesquisa, ensino e extensão científica em diversas áreas do conhecimento e territórios no Vale do Ribeira
Memórias da Paisagem: cotidiano e espacialidade dos comerciantes de tropas do Rio Ribeira de Iguape por meio da recuperação toponímica (2023)
Arlete Nestlehner Cardoso de Almeida
O tema desta pesquisa é a toponímia do Vale do Rio Ribeira de Iguape, território localizado ao Sul do Estado de São Paulo, na fronteira com o Estado do Paraná. O objetivo é o resgate dos condicionantes históricos que o processo de investigação toponímica alcança, uma vez que dados linguísticos costumam corresponder aos dados históricos de formação de uma região. Trata-se de um território habitado inicialmente por povos nativos de origem Tupi, que na metade dos séculos XVI foi porta de entrada de exploradores europeus à procura de metais preciosos, provocando o surgimento de diversos arraiais de mineração e originando o primeiro ciclo econômico, o do ouro. Avançando serra acima, exploradores rumaram ao Planalto do Paranapanema, por meio dos vales dos rios e de antigas trilhas indígenas, estabelecendo rotas terrestres e fluviais que abarcavam uma malha de caminhos interligados aos portos da Planície Litorânea. Esta dissertação ainda descortina, por meio dos topônimos, um segundo ciclo econômico, o tropeirismo. Em um percurso metodológico e teórico que comprova a complexidade com a qual o toponimista se depara constantemente, também ele pesquisador com formação que se deseja complexa e interdisciplinar, coletamos 4.355 topônimos em diversas fontes primárias e secundárias, cartográficas e textuais (datados de 1869 a 1998). Não afastando a pesquisa tradicional, esta dissertação dialoga com a história, a geografia e sobretudo a etimologia para a composição de seu escopo teórico.Após a coleta e filtragem do corpus, deliberamos analisar não cada topônimo, mas reuni-los sob mecanismos de nomeação e motivações. Os procedimentos metodológicos, não exatamente canônicos para esta disciplina onomástica, consistiram na criação de um instrumento capaz de manusear dados contidos nos topônimos e suas variáveis de forma mais eficiente. Tais procedimentos permitem complementar estudos de leitura da paisagem por meio de resultados quantitativos dos topônimos, derivados de programação matemática e interpretação de gráficos. Como resultados, apresentamos uma identificação sistematizada de padrões tais como concentração, dispersão, recorrência, intersecção e variações de motivações ao longo do tempo e espaço, contribuindo para conservar e revelar valores históricos, culturais e linguísticos da sociedade que viveu, sobreviveu e nos legou sua visão de mundo, interesses, conflitos e imaginário por meio dos nomes de lugares do Vale do Ribeira
Córrego Quebra Canga e os caminhos tropeiros de Ribeira de Iguape: um olhar toponímico pelo viés lexicográfico
Arlete Nestlehner Cardoso de Almeida em "Pesquisa em Filologia e Língua Portuguesa", FFLCH USP, ( pág 96 a 109)
Considerando-se a Toponímia como uma disciplina interdisciplinar por excelência, este artigo faz um esboço de um aspecto bem particular de nossa pesquisa em nível de Mestrado, intitulada “Memórias da Paisagem: cotidiano e espacialidade dos comerciantes de tropas do rio Ribeira de Iguape por meio da recuperação toponímica”. A título exemplificativo, exploramos dados linguísticos – mormente marcados em vários verbetes lexicográficos para a ocorrência canga, em composição com o verbo quebrar no topônimo Córrego Quebra Canga – e também elementos extralinguísticos, lembrando que a toponímia bebe dessa articulação. Em primeiro, fazemos uma retrospectiva lexicográfica das ocorrências do substantivo canga em perspectiva diacrônica. O objetivo dessa recolha é detectar possíveis motivações extralinguísticas para o topônimo, as quais podem estar registradas nos artigos lexicográficos. A seguir, traçamos um panorama da espacialidade na qual se insere esse topônimo e o corpus total de nossa pesquisa. Trata-se de uma região habitada inicialmente por povos nativos de origem Tupi, que na metade do século XVI foi porta de entrada de exploradores à procura de metais preciosos que provocaram o surgimento de diversos arraiais de mineração nos afluentes do rio Ribeira de Iguape, originando o primeiro ciclo econômico, o do ouro. A exploração mineral na baixada litorânea do Vale do Ribeira avançou serra acima, rumo ao Planalto, através das cavas dos rios e de antigas trilhas indígenas, estabelecendo rotas terrestres e fluviais que compunham uma malha de caminhos que se interligavam aos portos da Planície Litorânea. No século XVIII, com a abertura dos Caminhos do Sul, estrada que conduzia as tropas de animais e de mercadorias do Brasil Meridional às feiras de Sorocaba, as viagens de canoas e de tropas na região se intensificam, originando o segundo ciclo econômico, o tropeirismo. Como resultados, concluímos que possivelmente o topônimo Córrego Quebra Canga tenha surgido durante esse segundo ciclo econômico que se estende, devido ao isolamento da região, até as primeiras décadas do século XX. A coleta foi realizada no Mapa Municipal Estatístico de Itaberá (antiga Lavrinha) região do Alto Paranapanema. Esc. 1.50.000 Elaborado pelo IBGE- edição 2011.
Piás piando pios: um diálogo com os pássaros, o canto do macuco e inhambu açú
Documentário etnográfico selecionado para o XV Prêmio Pierre Verger
Ana Beatriz Nestlehner Cardoso de Almeida
Produção audiovisual produzida na Reserva da Fazenda Passagem. O documentário é sobre a dimensão da percepção da paisagem na relação entre o homem e a natureza de comunidades quilombolas à barra do rio Pilões, no Vale do Ribeira. Nessa localidade, os sons da mata marcam e coordenam a vida cotidiana, decodificam informações espaciais e temporais, enquanto expressam significados míticos e subjetivos. Assim, observar a natureza está para além da visualidade, constituindo-se na compreensão do próprio corpo e sonoridade da Mata Atlântica. Atrair pássaros e animais consiste em ouvir, sentir, ver, compreender comportamentos. É uma alteridade– espacial, social e técnica – entre humano e não humano, o corpo e o meio ambiente, o homem e a floresta.
Arraias do Ribeira de Iguape: Topônimos do ouro
Resumo de artigo Colóqui de Pesquisa Discente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo COPED 2024
Arlete Nestlehner Cardoso de Almeida
Este artigo aventa a hipótese que os topônimos espontâneos são marcadores da paisagem que podem favorecer a elucidação dos condicionantes históricos de ocupação de um território, uma vez que dados linguísticos costumam corresponder aos dados históricos de formação dos espaços de uma região. Propõe para tal empreita uma análise dos nomes de lugares relacionados a exploração mineral do Vale do Rio Ribeira de Iguape, território localizado ao Sul do Estado de São Paulo que foi porta de entrada de exploradores europeus à procura de riquezas desde os primórdios da colonização paulista. A descoberta de ouro de aluvião na região provocou o surgimento de diversos arraiais de mineração ainda no século XVI. A partir de dados coletados na dissertação de mestrado defendida pela autora no segundo semestre de 2023, foi possível averiguar uma concentração maior de topônimos relacionados à mineração do ouro nas folhas cartográficas que compreendem os atuais municípios de Eldorado, Iporanga e Apiaí, áreas que admitimos para nossa proposição e exploramos por meio da investigação toponímica para embasar nossas suposições sobre a capacidade do topônimo de explicar e desvendar os espaços criados pelo homem. Por ser um signo motivado, o topônimo se insere em um contexto extralinguístico que o capacita a proporcionar interpretações socioculturais dos lugares. A diferenciação dos lugares pelos seus nomes e não apenas pelos aspectos descritivos da paisagem pode nos revelar valores sociais, políticos, culturais, tipos de colonização, formas de interação com o meio e a memória coletiva, entre outras representações sociais em determinado território/espaço criado ou interpretado pelo homem, proporcionando uma melhor compreensão dos aspectos sociais das dinâmicas da paisagem e da apropriação e constituição humana de seus territórios. Este trabalho dialoga com a história, a geografia e a etimologia para a composição de seu escopo teórico.
(In) Justiça Climática Vale do Ribeira- Iporanga e Eldorado
Mini Documentário produzido pela NOSS EDU CLIMA e Moeté Filmes
A Fazenda Passagem apoiou o desenvolvimento e a produção do Mini Documentário (In)justiças Climáticas Vale do Ribeira.
O filme, com a realização do Núcleo de Pesquisa em Organizações, Sociedade e Sustentabilidade (NOSS) e Moeté Filmes , é um dos resultados da "Pesquisa Participativa em Ação: Educação para Justiça Climática no Vale do Ribeira-SP," desenvolvido pelo projeto de pesquisa NOSS EDU CLIMA, sob coordenação institucional do Núcleo de Apoio a Pesquisa em Mudanças Climáticas (INCLINE USP).em colaboração com o projeto Climate-U da University College of London (UCL).
Coordenadora do NOSS EDU CLIMA: Prof Sylmara Dias
Direção e Roteiro da produção final: Daniel Felipe Paiva e Érico Pagotto
Direção das entrevistas com moradores locais: Ana Beatriz Nestlehner Cardoso de Almeida
Pesquisadoras: Amanda Cseh, Isabela Cavaco, Aline Gomes
Mais informações sobre o projeto: https://sites.usp.br/nosseduclima
Educação para Justiça Climática no Vale do Ribeira
Pesquisa desenvolvida pelo projeto de pesquisa, ensino e extensão NOSS EDU CLIMA
A Fazenda Passagem apoiou o desenvolvimento dos trabalhos de campo da pesquisa Educação para Justiça Climática desenvolvido pelo NOSS EDU CLIMA um projeto de pesquisa, ensino e extensão coordenado pela Professora Sylmara Gonçalves-Dias líder do Núcleo de Pesquisa em Organizações Sociedade e Sustentabilidade da EACH USP (NOSS EACH USP).
O “Projeto de Pesquisa Participativa em Ação: Educação para Justiça Climática no Vale do Ribeira” foi desenvolvido pelo NOSS EACH USP em colaboração com a iniciativa internacional Climate-U, implementada no Brasil em parceria com o INCLINE USP. O objetivo central é contribuir para que a escola transforme-se em um epicentro estratégico na promoção da justiça climática, criando subsídios e inspirando professores para serem difusores de conhecimento para ação climática e, consequentemente, para que os alunos se tornem agentes centrais para mudança de suas comunidades.
A estratégia metodológica deste projeto de pesquisa, ensino e extensão fundamenta-se na pesquisa-ação participativa, baseada na educação dialógica de Paulo Freire, aprendizagem significativa de Ausubel e a Ciência Cidadã. Buscamos inspirar a implementação de atividades que valorizem os conhecimentos tradicionais, explorem diversas linguagens, promovam a resolução de problemas, contribuam para a reflexão crítica e fomentem o protagonismo dos estudantes e toda comunidade escolar. O projeto-piloto foi implementado em duas escolas rurais que atendem ao ensino fundamental e médio nos municípios de Eldorado e Iporanga no Vale do Ribeira.
Um dos resultados do projeto de pesquisa foi o instrumento educacional "Detetive Climático"organizado em dois volumes: O caderno do educador e o caderno de exercício, que premiado pela USP em primeiro lugar como atividade com maior impacto social relacionado a ODS Ação Climática.
As atividades de campo foram desenvolvidas pelas pesquisadoras Ana Beatriz Nestlehner Cardoso de Almeida, Amanda Cseh, Isabela Cavaco e Aline Gomes.