
A Propriedade de Ismael Júlio da Silva
A propriedade faz divisas, com antigas terras de José Júlio da Silva, pai de Ismael Júlio da Silva, Capitão da Guarda Nacional e próspero comerciante da região que se instalou na barra do rio Pilões com o Rio Ribeira de Iguape, no início do séc. XIX.
As barras no rio Ribeira de Iguape eram locais especiais e a do rio Pilões foi um importante centro regional de comrcio e de serviços. Durante um século, José Júlio da Silva e seus descendentes mantiveram na área atividades produtivas e comerciais da época da colonização do interior do Vale do Ribeira.
Em 1935, Ismael Júlio da Silva adquire a Fazenda Passagem, propriedade que já era utilizada por seu pai. A primeira escritura data de 1905, mas consta como herança de Maria Geraldina Pupo, falecida em 1890, em comum com Maria Julia da Silva, essa última irmã de José Júlio.
A Fazenda Passagem foi o último remanescente de inúmeros entrepostos comerciais que se instalaram nas margens do Ribeira de Iguape numa época em que o único meio de transporte era o rio. A propriedade era uma moradia rural, misto de fábrica, comércio, hospedaria, além de produtora agrícola. Fabricavam aguardente, melado, rapadura, doce de laranja, farinha de mandioca, farinha de milho e roupas confeccionadas pelas mulheres da casa.
No armazém comercializavam os produtos vindos de fora com as comunidades e intermediavam a venda de seus excedentes agrícolas. Muitos dos comerciantes, ou viajantes pernoitarem na propriedade. Ismael Júlio da Silva também foi concessionário da estrada de ferro, Santos – Jundiaí e detinha o monopólio sobre a navegação comercial do Ribeira, além de prestar o serviço de transporte público para a população.
Embora isolados, o comércio promovia a comunicação. As canoas, além de mercadorias, traziam e levavam notícias e encomendas diversas. Esse cenário se manteve, até a construção da estrada que liga Eldorado a Iporanga, em 1968, que veio romper a hegemonia do rio como único meio de transporte.
O cotidiano de Ismael Júlio da Silva, na vigência do século XX, pouco se diferenciou do cotidiano de seu pai. Suas relações pessoais, seu sistema de trabalho, seus meios de produção, seus equipamentos e ferramentas, suas construções são repetições de técnicas que se mantiveram pelo uso e tradição.
Em 1998, após uma grande enchente, Ismael Júlio da Silva decidiu vender a propriedade para Arlete Nestlehner, neta de Leonor Oliveira Lima, de família tradicional do município de Iporanga. Arlete Nestlehner dedicou-se a pesquisa sobre a preservação do patrimônio histórico do município. Especialista em técnicas construtivas tradicionais paulistas, promoveu a restauração da Sede da Fazenda Passagem.
Atualmente, a Fazenda Passagem é uma propriedade autossustentável, fornece serviços diferenciados de hospedagem, promove atividades dedicadas a produção orgânica de Laranjas Champagne, Bambus e Palmito Real, assim como o manejo sustentável da floresta. O patrimônio material e imaterial da Fazenda Passagem e de Ismael Júlio da Silva é preservado e tema central das diversas pesquisas de autoria de Arlete Nestlehner e seus familiares.